Sobre Encontros e Tecnoxamanismos

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Há dois anos subimos no Ônibus Hacker ao lado do Parque Augusta e, três dias depois chegamos no Itapeco,  Instituto de Tecnologia Alternativa, Permacultura, e Ecologia onde aconteceu o I Festival Internacional de Tecnoxamanismo (pdf sobre o festival), em Arraial d’Ajuda, na Bahia. Estávamos em contato com a Aldeia Velha Pataxó, na Terra do Descobrimento (descobrir a terra – matar os seres que a protegem).

Somos amigxs desde a época em que estudávamos Midialogia e, desde então, fizemos algumas viagens juntxs. Esses deslocamentos nos ajudam a ampliar nosso espectro sobre a multiplicidade de existências aqui na Terra. E alteram nossa percepção sobre nossa própria dimensão, que torna-se flexível – às vezes nos amplia, às vezes nos torna muito pequenos, quando não as duas coisas juntas. Como quando conhecemos os Cardones, uma espécie de cacto gigante no norte da Argentina. Estávamos em meio a uma área onde as culturas tradicionais estavam muito preservadas, mesmo junto a uma quantidade considerável de viajantes – várias placas nos informavam a zona protegida na qual pisávamos, nas províncias de Tucumán, Salta e Jujuy com Luísa; ou quando avistei a Terra por detrás de uma entidade que me parecia ser humano-pássaro-oriental e que cuidava do planeta sob suas asas… ou quando vi uma fábrica cheia de tubos e canos coloridos onde nossas consciências eram produzidas freneticamente e saíam em forma de esferas igualmente coloridas para chegarem até nosso corpo… ou quando encontramos tantas chaves por esses percursos, que abrem destrancam destravam… o̩̺̞u̳̪̮̺̖͇̕ q͈̣̹̘̩͕̣́́͢ụ̴̡̦̬͙̖͍̳͓̜̹͔̩̻̮̜̟̟͞a̵̸̱̼̘̜̮͖̠̪̫͖̜̥̦̗͕̞̟͝n̸̷̴̪̯̖̺͎͍̱̼̭̬̲͉̜̱̼̼͈̝͘͝d̶̺͚̳̩̥͔̼͓͕̹̼͖̮̀͢…̵̲͕͚͔̪͇̗̟̹̭̱͔̺̦͢͟͞,̧͉̯̮̞̞͍͍̹̻̗͍̩͜,̛͔̱̝̰̫̤̖̝̫̤̺̝̼̦̭͘͟   ||| |   | |    \    \  \

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nós estávamos juntxs

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De alguma forma, isso nos aproxima de nosso corpo-consciência, e da terra da qual ele é gerado e pela qual transita, com uso de tantos aparatos. Não sabíamos ao certo o que era a rede do tecnoxamanismo. Mas, nos parecia uma forma de nos aproximar de nossa própria realidade. De percebermos melhor nossos trajetos, práticas e contradições. E gerar novxs. A rede é composta por pessoas interessadas em cultura diy, artistas, indígenas, ativistas indigenistas, hackers, produtores, pesquisadores, permacultores, entre outros. Funciona online, através de uma lista de e-mails, grupo no facebook e por encontros presenciais produzidos em diversos contextos e países. Nos abarca, nos balança, nos gera trabalho, nos gera conflitos, nos conecta.

Em um desses encontros, realizados na Casa da Luz, em São Paulo, tivemos nosso primeiro contato com Sônia Barbosa, uma das porta-vozes da comunidade Guarani da Terra Indígena do Jaraguá, na zona oeste da cidade de São Paulo. Foi quando ela convidou membros da rede para irem até as Aldeias Tekoha Ytu e Tekoha Pyau, na mesma cidade onde moramos e da qual nunca havíamos tido notícias. Até hoje, apenas uma pequena parte da zona que habitam foi demarcada como Terra Indígena pelo aparato burocrático do governo.

Meses depois, articulamos a primeira visita e cresceu nosso desejo de fazermos algo juntos. Até que conseguimos organizar com o Instituto Goethe o Encontro de Tecnoxamanismo, para o qual chamamos Sônia Barbosa, que indicou a cacique Márcia Venicio e o Coral Kerexu, composto por crianças e outros membros da comunidade para também partciparem do evento. Também convidamos o projeto Baobáxia http://baobaxia.mocambos.net/#mocambos/rede/bbx/search/shuffle e outros membros da rede. (link episódios do sul quando sair sobre evento). No mesmo evento, foi lançado o ebook TCNXMNSM (https://issuu.com/invisiveisproducoes/docs/tcnxmnsm_ebook_resolution_1/1), no qual muitas pesquisas sobre o tema podem ser encontradas.

placa 5Fomos até a aldeia porque de alguma forma nos sentimos representados pelos indígenas em suas lutas e reivindicações. Apesar de habitarmos outros corpos, outras histórias, nosso contorno-fractal se encontra ao de Sônia, pulsando desejos em direção a uma vida na cidade com direito à terra. Direito ao espaço público e ao respirar das matas. Ou a uma vida com um espírito de comunidade mais aflorado. Ou de nos apropriarmos de armas tecnológicas de controle e repressão e subvertê-las em ferramentas tecnológicas do convívio com a multiplicidade. Temos muito a trocar com os indígenas. O contraste com o modo de vida deles nos ajuda a nos ver mais. E o encontro com desejos parecidos nos fortalece.

Na segunda vez que fomos à aldeia, em nosso caminho avistamos um pouco distante, embaixo de um viaduto sobre o qual passa a Rodovia dos Caçadores de Indígenas e Quilombolas para Escravização, um homem que corria com um machado na mão. Ele parecia ameaçar aos que passavam. Paramos, assustados. Como seguir sem temer em um caminho cheio de acontecimentos horrorosos? Seria uma ameaça ao nosso percurso? Um impedimento de continuarmos articulando nossos desejos para virem à superfície? Ou uma bênção de Xangô para que continuássemos mais fortes e atentos?

Respiramos. O homem sumiu.

casa_rezaSeguimos em busca da transformação, junto a alguém que passava na rua e seguia o mesmo caminho. Nos apoiamos. Como ao encontrar uma rede com buscas parecidas e seguir junto por um tempo. Chegamos na Aldeia e nossos desejos pulsam. Estamos juntxs.

O Segundo Festival Internacional de Tecnoxamanismo acontecerá em novembro, junto à comunidade Pataxó da Aldeia Pará, próximo a Caraíva, na Bahia. Para acessar a convocatória, acesse o link: https://tecnoxamanismo.wordpress.com/2016/05/20/convocatoria-para-o-ii-festival-de-tecnoxamanismo/

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