Em meio a crescente onda de agricultura urbana e ocupações de espaços públicos em São Paulo, a demanda de áreas cultivadas ainda é imensa. O laboratório Zona da Mata nasce da necessidade de experimentações e colaborações coletivas em torno do retomada verde da cidade. Um espaço de troca, onde as dinâmicas possam mapear e inspirar interações dentro e fora do Instituto.
Qual a memória do solo, das árvores? O que podemos imaginar e fazer juntos? Pode ser um jardim-horta, uma horta-floresta, um viveiro-cozinha-ateliê, um refúgio de contemplação? Certamente um lugar de encontro e fluxo de informação, inspiração e cultivo.
Com a impossibilidade de grandes investimentos imediatos, a saída foi germinar o projeto e deixá-lo crescer gradualmente. Como uma escultura viva, o laboratório iniciou um programa de investigações de práticas ambientais e artísticas, como rodas de conversa e mutirões preparando o terreno e a fertilização de narrativas de integração entre o meio ambiente e a produção de arte, educação e cultura.
Em um momento de grande questionamento da representatividade política, brotam pelas rachaduras do cotidiano a necessidade de pertencimento à cidade, apropriação dos saberes da terra, acesso ao alimento e plantio do que podemos chamar de ecologia sistêmica ligada a outras eficácias mais permeáveis e criativas. O laboratório Zona da Mata espelha-se na busca de um ambiente integrado entre a cidade e o campo, como um banco de idéias e experiências autônomas, próximas de uma sensibilidade descolonizada, e que promovam o intercâmbio, a criatividade e a consciência da diversidade.
O processo de renovação tem sido um chamado para aulas e vivências participativas com o intuito de estreitar laços com a comunidade e o entorno, apresentando métodos e leituras da paisagem. Onde o ser humano possa ser visto como força integrada ao que chamamos de natureza, parte de uma engrenagem, literalmente um jardim dentro de outro jardim. A inspiração vem da visão integrada da flor da Permacultura, uma cultura holística de planejamento e cultivo sistêmico, cujo ritmo que direciona as decisões é o passo a passo.
No centro desse esquema temos a ética e o design e em seu entorno surge uma sequência interligada de pétalas que se abrem sucessivamente: o manejo da terra e os recursos energéticos, as questões sobre auto-gestão e governabilidade, a saúde física e espiritual, o bem estar ao lado da educação alternativa e dos legados tradicionais dos povos originários (sua cosmogonia), analisados como ferramentas e tecnologias que alimentam a estruturas físicas e metafísicas de cultivo, cuidado, construção e abrigo.
A programação que segue até o final do ano traz o diálogo e a prática de vários artistas, ambientalistas, permacultores, ativistas e coletivos que tem deixado um legado físico, simbólico e político para a cidade. As investigações dessa primeira fase no quintal do Goethe já tiveram dias intensos com sensibilizações e dinâmicas territoriais com Peter Webb e Tomaz Lotufo, a pesquisa sobre jardinagem, tempo e espaço de Gabriela Leirias e Faetusa Tezelli, a inegável importância da ancestralidade presente na cultura indígena e no trabalho desenvolvido pelo Atelie Mata Adentro para os tempos sombrios em que vivemos e a escola de ativismo gestada dentro e fora dos Parque Augusta. Estão todxs convidadxs para as próximas atividades, que vão se expandir para outras regiões da cidade e adquirir um tom mais propositivo: plantar, fazer, construir.
Rodrigo Bueno e Carol Ramos