foto: Denise dos Santos
Em 1984 um grupo de catadores que circulavam pelo bairro do Glicério, no Centro de São Paulo, se uniu com apoio da Organização Auxílio Fraterno (OAF) para poder ter melhores condições de trabalho. Cinco anos depois conseguiram um espaço, cedido pela prefeitura de então, sob o viaduto Paulo VI, onde a Coopamare se instalou e resiste até hoje. A existência de uma cooperativa nesse espaço de certa forma residual na cidade é um primeiro momento de ressignificação dos resíduos que a sociedade produz. A partir daí, a vida e o trabalho dessas pessoas gira em torno desse cuidado com os resíduos produzidos por todos nós no modo de vida que levamos na metrópole.
foto: Wallison Borges
Com o tempo, aqueles homens e mulheres deixaram de carregar suas carroças e conquistaram coletivamente veículos motorizados para coletar os materiais, podendo se dedicar mais a uma triagem fina que possibilita aproveitar melhor os diversos materiais encontrados.
A organização em cooperativa possibilitou a melhora das condições de trabalho dos catadores e catadoras através da luta pelos direitos sociais num modelo de trabalho comunitário e solidário.
A coleta ainda não é remunerada, como hoje em dia ocorre com grandes empresas que realizam a coleta dos materiais na cidade contratadas pela prefeitura. Mas a luta por essa etapa do processo segue, articulada pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis e pelas cooperativas que surgiram nesse tempo em diversos pontos da cidade e do país.
Os trabalhadores e catadores de materiais recicláveis são também educadores ambientais, uma vez que não há uma concientização e responsabilidade sobre os resíduos que se produz por parte da sociedade e por parte das indústrias e empresas. É preciso que a sociedade reconheça o valor dessas pessoas pois fazem um trabalho nobre que deveria receber um investimento público à altura do serviço prestado.
foto: Luis Ronaldo
Durante os meses de agosto e setembro, desenvolvemos uma oficina de fotografia na Coopamare. Depois de algumas conversas, chegamos a uma estrutura de curso que propunha uma reflexão sobre a construção de uma auto-imagem, por meio da produção de imagens e vídeos com os celulares dos próprios cooperados, da criação de uma página da cooperativa no Facebook, e finalmente, da discussão e postagem das imagens na rede por eles mesmos.
foto: Nilzete Romão
Dentre outras questões, discutimos as possibilidades desta página do Facebook ser utilizada como uma plataforma de informação da sociedade acerca do processamento dos materiais na cidade, já que a Coopamare acumula quase 30 anos de experiência nesta área. Apesar disso, os trabalhadores são ainda relativamente mal remunerados, já que a prefeitura não paga pelo trabalho de coleta realizado, o que faz com que eles recebam apenas pela venda do material.
Este curto convívio com o Walison, a Vera, a Nilzete, a Denise, o Luis e o Fabiano, a Dulcineia, a Cleide, a Adriana e a Nena (da OAF) na Coopamare foi extremamente enriquecedor para nós. Esperamos que através das mídias sociais eles possam comunicar um pouco do que nos ensinaram nesse tempo e que mais pessoas percebam a responsabilidade de cada um no processo da reciclagem.
Inês Bonduki e Marina Rago